Entre o final do século XIX e o começo do século XX, surgiram no Brasil uma série de manuais com modelos de discursos para ocasiões solenes como batismos, casamentos, funerais, chegadas e despedidas,
celebrações de Ano Novo e de acontecimentos históricos, entre outras cerimônias classificadas por antropólogos como ritos de passagem. O orador familiar, O orador popular, O orador do povo e O orador moderno, publicados por editoras distintas e assinados por diferentes nomes, constituíam então um novo subgênero bibliográfico de grande sucesso editorial, uma adaptação nacional para os manuais epistolares europeus. Seus autores buscavam, numa sociedade marcada por índices relativamente altos de analfabetismo, intervir no mundo da palavra falada e com isso moldar valores e comportamentos. Neste artigo,
sugiro que tais obras intencionavam direcionar o processo de modernização então em curso. Por um lado, admitiam a emergência de novos grupos sociais e alguns de seus valores, bem como a integração do país à economia global. Por outro lado,
reforçavam elementos da ordem social tradicional e do catolicismo oficial.